Naquela breve troca de palavras ficou o convite para eu passar na sua VANCEMELHA.
O Zé Prata é conhecido na urbe afectuosamente pelo Zé Pinguinhas. A Quinta da Vancemelha é um local paradisíaco, onde o Zé acolhe a todos com a sua grande generosidade, simpatia e reconhecida hospitalidade. A portaleira para quem passa no serro, está sempre aberta. Poucos são aqueles que não conhecem a Quinta do Zé Pinguinhas.
Passados alguns dias, enquanto a Matilde a Carolina e o Francisco apanhavam marujas na lameira da quinta da Lurdes, aproveitei e por ser perto passei por lá.
Enquanto saboreávamos o precioso néctar dos deuses, falámos entre outras coisas, das vinhas e do vinho, disse-me por exemplo que estava preocupado com o futuro das castas genuínas, responsáveis pela identidade e sabor únicos do vinho da Miuzela. Referiu que está actualmente a plantar uma vinha nova com as tais que pertencem ao linguarejo popular e sabores da minha infância: bastardo, bastardinho, frogusão, rossete, alva, chasselá, etc.
O Zé Pinguinhas por ser assim, é também ele, um homem à frente do nosso tempo, numa altura em que a vinha da Miuzela está em risco de extinção, é espantoso ele querer preservar as castas. É remar contracorrente, é querer preservar a história, não há muitos assim. Boa Zé!
E foi também de homens que falámos naquela bela tarde de Primavera, à Beira-Côa, concordámos que houve pessoas que marcaram a Miuzela. Eram os HOMENS DE PALAVRA, pela sua verticalidade, credibilidade, seriedade, sensatez e sentido de justiça evidenciados, era habitual naquele tempo serem escutados e procurados, frequentemente para dirimir conflitos sociais relacionados por exemplo com desentendimento em partilhas, colocação de marcos, etc.
A PALAVRA verbalizada era escutada pelas partes em conflito diminuindo a tensão entre eles. A sua mediação contribuiu e muito para o apaziguar das relações, enquanto aumentava a felicidade das pessoas.
Foi triste vê-los partir, não devia ter acontecido, criaram um vazio impossível de preencher.
Quantos são hoje os homens de palavra?
Um abraço Zé
Por : António José do Carmo Gonçalves